quinta-feira, 31 de março de 2011

Tu e Eu …

Sabes daquele mar
imenso e fundo
em que me afogo?
És tu!

Sabes daquele céu
pintado a cores de brisa
onde me expando
e a minha alma
acha o que precisa?
És tu!

Sabes daquele ar
que o invade o peito
e me alimenta a vida
de paixão?
És tu!

Sabes daquele fogo
que se ateia com um beijo
e arde, arde
sem alarde
até fazer melodia
em nossa voz?
Somos nós!

És tu e eu
assim,
sem mais ninguém,
no nosso casulo perfumado,
por momentos
partilhado,
como gomos de fruta
delicada
da árvore do Amor
que nos contem!

E se souberes daquele chão
onde repouso
depois do sopro desta vida
se perder,
coloca nele
uma rosa amarela
e fica à espera
de ver,
através dela,
que o Amor nem tempo tem
e viverá …
… enquanto aquela rosa
renascer!

Elvira Almeida

segunda-feira, 7 de março de 2011

Chuvas de Abril

Nas vidraças dos meus olhos
Chovem saudades, tormentos,
Matéria dos desalentos
Da vida desfeita em escolhos!

No nevoeiro escondo a alma;
Estou presa num sobressalto
Sou náufrago no mar alto
Em busca de porto e calma!

Se não chorar não sossego
Preciso desse aconchego
Que tinha, de ti, num beijo!

Toma meu corpo febril
Recolhe as chuvas de Abril
E lava este meu desejo!

Ontem e Amanhã

O nosso amor de ontem
cobriu sois e planetas ….!
mas jaz agora, em cinza,
nas gavetas
onde dormem as memórias
dos sentimentos bons …

O nosso amor de ontem
foi luz no firmamento
unguento
em devoto ritual;
fez-me, em ti,
virgem no achar do amor puro;
foste porto seguro e
eu fui barco veloz
navegando,
ao som da tua voz,
em rio estreito e sem caudal …

O nosso amor de ontem
afagou linhas do tempo
no meu rosto,
arejou minha alma
embaraçada,
ateou, por fogo posto,
o meu alento
e a ânsia de viver
irrompeu à desfilada!

Depois posou!
Tinha de ser?

Já não se vê arder
aquela chama…
já só encontro frio
em minha cama
e as cãs só entristecem
minha face serena.

No novo amanhecer
o nosso amor de ontem
vai morrer
mas o nosso amor de sempre
vai crescer
porque guardar,
no coração,
um grande amor
faz bem e vale a pena!

Elvira Almeida

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Noite escura

Vivi na madrugada dos teus olhos
No cheiro da tua alma, adormecida;
Do jardim do meu peito colhi molhos
De flores, que ofereci à tua vida!

Fizemos tantas juras que a saudade
Nunca iria viver nesta paixão
Na tela deste amor, só liberdade,
A fortes cores pintada p’la ilusão

Porquê, então, há pedras no caminho
e vazio no abraço, sem ternura?
Porquê, amor, me sinto tão sozinho
E só tenho, nos olhos, noite escura?

A pérola

Amanheço
embalada pelo memória
do cheiro do teu corpo,
ninho da minha pérola
que ainda em ti habita.

De areia feita,
sou tormento …
busco em teu chão
o alimento,
germino no silêncio
em anseio por um travo
do sabor da tua boca,
mesmo que coisa pouca,
porque o coração não acredita …

Deixa-me crescer em ti,
ficar brilhante
redonda,
perfeita de beleza,
obra da natureza,
ao seu jeito !

Prometo!
Se não me arrancares
da tua concha
e se me afagares,
prometo que estarei
pronta para me levares
nos caminhos do teu mundo,
companheira do teu peito!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Para sempre

De mim
já mais não sei
que a noite cai
e traz a solidão …

Da paixão
fluida em minhas veias,
corrente impetuosa
antes sem peias,
sobrou o lusco-fusco,
tarde invernosa
despencada
da manhã quente de verão!

Vou repousar
o meu corpo no lençol
que ainda tem teu corpo
desenhado;
Vou deixar entrar
em mim o sol,
recolher-te em meu olhar
e guardar intacto,
no futuro,
este presente
do passado!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Os velhos - ou a imagem dolorosa da entrada do Serviço de Urgência de um Hospital

Vê-se no espelho da alma
a imagem cansada
da vida já vivida,
perdida,
às vezes encontrada
nas pétalas de uma flor,
num amor,
num devaneio
na chuva que cai,
desamparada,
sobre a terra
que a acolhe no seu seio
morto de sede !

E esse olhar distante
que verte a tristeza
recolhida além daquele espelho,
reflecte o rosto velho
- ficou assim num instante –
de quem gastou a vida
esquecido da arte
de viver …

No abandono,
a solidão;
memórias: talvez sim!
Ou talvez não!
Apenas só um corpo
sem força,
já sem garra
para aproveitar a uva
e afastar a parra
da vinha vindimada do seu ser …

Foi-se o mosto,
o vinho preparado
pelo gosto….

Os olhos apagados,
mudos, cegos,
sentem a falta de apegos;
vivem já na sala ao lado
da vida…
... para morrer!

Elvira Almeida

Carta ao dono do meu coração

Olá Amor!
Estou a escrever-te
do quente do meu leito
e ainda trago
ao peito
a jóia desenhada
pelos teus dedos
nos meus seios!

Conheces meus anseios:
quero voar,
rasgar as madrugadas
com melodias trautearas,
caminhar sobre as águas das marés,
pairando,
sem sequer molhar os pés
mas mergulhando
a alma no sonho
vivido no meu sono …

Se não vens depressa,
numa hora,
perderei a esperança
na demora
e morrerei, na espera,
ao abandono!