segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Para sempre

De mim
já mais não sei
que a noite cai
e traz a solidão …

Da paixão
fluida em minhas veias,
corrente impetuosa
antes sem peias,
sobrou o lusco-fusco,
tarde invernosa
despencada
da manhã quente de verão!

Vou repousar
o meu corpo no lençol
que ainda tem teu corpo
desenhado;
Vou deixar entrar
em mim o sol,
recolher-te em meu olhar
e guardar intacto,
no futuro,
este presente
do passado!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Os velhos - ou a imagem dolorosa da entrada do Serviço de Urgência de um Hospital

Vê-se no espelho da alma
a imagem cansada
da vida já vivida,
perdida,
às vezes encontrada
nas pétalas de uma flor,
num amor,
num devaneio
na chuva que cai,
desamparada,
sobre a terra
que a acolhe no seu seio
morto de sede !

E esse olhar distante
que verte a tristeza
recolhida além daquele espelho,
reflecte o rosto velho
- ficou assim num instante –
de quem gastou a vida
esquecido da arte
de viver …

No abandono,
a solidão;
memórias: talvez sim!
Ou talvez não!
Apenas só um corpo
sem força,
já sem garra
para aproveitar a uva
e afastar a parra
da vinha vindimada do seu ser …

Foi-se o mosto,
o vinho preparado
pelo gosto….

Os olhos apagados,
mudos, cegos,
sentem a falta de apegos;
vivem já na sala ao lado
da vida…
... para morrer!

Elvira Almeida

Carta ao dono do meu coração

Olá Amor!
Estou a escrever-te
do quente do meu leito
e ainda trago
ao peito
a jóia desenhada
pelos teus dedos
nos meus seios!

Conheces meus anseios:
quero voar,
rasgar as madrugadas
com melodias trautearas,
caminhar sobre as águas das marés,
pairando,
sem sequer molhar os pés
mas mergulhando
a alma no sonho
vivido no meu sono …

Se não vens depressa,
numa hora,
perderei a esperança
na demora
e morrerei, na espera,
ao abandono!