Queria falar-te das coisas proibidas,
dos barcos que apodrecem
amarrados no cais,
das silhuetas da noite,
vultos,
sombras que adormecem
perdidas no inferno,
num açoite
donde não voltarão mais…
Queria falar-te
dos grandes desvarios
de gente poderosa
que arrasta pelos rios,
secos de fome,
outra gente…
Fim de tarde e um banco de Jardim
As folhas levadas com o vento pelo chão
Parecem dizer-me: vives, então pede perdão!
E eu só me sentei, sem ninguém perto de mim!
Peço perdão por ser humana,
insana,
neste mundo em podridão!
Peço perdão
pelas ruas esburacadas,
pelas crianças sem pão,
pelas mulheres esfaqueadas,
pelos homens na prisão,
pelos preços a subir,
e as casas a cair,
pelos ricos egoístas,
pelos “istas”*
sem trabalho,
pela falta de agasalho,
no corpo de quem faz
do duro cascalho,
sua cama para dormir…!