quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Quero

Quero
acordar corações adormecidos
de pulsar fraco
e ondas de melancolia no olhar;
Quero
partilhar a firmeza dos meus desejos
de chegar, com todos os que têm de
chegar a lugar algum;

Quero
morder os lábios até que o sangue
me escorra para o peito aberto
pela dor de mim e de todos;

Quero
segurar pelos cabelos
os supostamente mais afortunados
e abrir-lhes a porta da rua
das ilusões perdidas dos que passam;

Quero
mastigar palavras para que não
saiam insultos,
pendurados na ponta da língua afiada;

Quero
soltar um grito de escuridão
e acender todas as estrelas
que se arrastam na lama;

Quero
partir do cais seguro
e abandonar no alto mar
todas as “porcarias” que não flutuam;

Quero
sair do mundo e voar bem alto
acima de todas as nuvens que
a Natureza nos oferece em troca
do desrespeito e da ganância;

Quero
deixar escrito num papel de arroz
o destino dos homens que não sabem
andar devagar e ficam loucos;

Quero
a minha vontade e a dos outros biliões
de humanos serem levadas a sério,
contra os restantes que se miram
no espelho que cria falsas imagens,
vestindo-as de senhores do mundo;

E Quero…
viver na raiz do teu olhar
e colher das lágrimas que soltas
o alimento para a minha alma
sequiosa de ti …

Quero
despir a minha pele e com ela
tecer cordões umbilicais
que nos liguem como um feto
se liga ao ventre materno;

Quero
acordar de mansinho, ao teu lado,
beijar a tua intenção de me beijar
e colocar o teu sorriso e o meu sorriso
nas asas duma borboleta, que os espalhe
como sementes do Amor ansiado,
teimosamente desperdiçado
nos corações dos homens

2 comentários:

  1. Que belo poema, Elvira!
    Um poema que é um desinquietar de consciências na construção de um mundo melhor.
    E, como sempre, onde o Amor tenha um lugar destacado!
    Manuel Amial

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  2. Crítica social, aliada ao amor!
    Quero que a sua poesia voe bem alto.
    Custódia

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