domingo, 29 de agosto de 2010

Queria falar-te

Queria falar-te das coisas proibidas,
dos barcos que apodrecem
amarrados no cais,
das silhuetas da noite,
vultos,
sombras que adormecem
perdidas no inferno,
num açoite
donde não voltarão mais…

Queria falar-te
dos grandes desvarios
de gente poderosa
que arrasta pelos rios,
secos de fome,
outra gente…
sujeita aos desafios
(porque não come…)
de acordar no outro dia
para viver, de novo,
a saga incongruente,
proibida de sonhos
de vida menos dolorosa…

Queria falar-te
da dor de ser Planeta
com estes habitantes,
em todos os instantes
da sua evolução;
entregue em mãos de predador
quase se anula,
mas renasce pela beleza,
pelo contraste
de cores e harmonia…
de verdes, amarelos ou vermelhos
sempre novos, sempre velhos
pelo que lhe fazem passar
em dura repetição…

Queria falar-te
de isso tudo mas não posso;
me pesa a consciência
pelo desprezo nosso
pela vida,
pela Paz,
pela voracidade
de quem não se satisfaz
em apenas ser feliz …

Vou falar-te
do assunto que eu mais sei:
falar do meu amor!

…em nome de um milhão
sem desculpas,
sem, jamais, pedir perdão
pelo que não fiz ..

Mas se não fiz,
falar não posso,
pois calei!

Elvira Almeida

2 comentários:

  1. Belo. O amor sempre presente e uma mea culpa pelo silêncio de todos nós, que atinge muitas vezes alguma covardia, mas semppre um comodismo.Parabéns Elvira. Bjs.

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  2. Muito belo, Cara Elvira.

    A exaltação do amor é uma clara evidência nos seus belos poemas! E gostaria de citar alguém para rematar esta bela poesia:

    "Se o seu navio não chega, nada até ele"

    Beijinho Elvira

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